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A questão de 1 Coríntios 8:11



A questão de 1 Coríntios 8:11


Em 1 Coríntios 8: 11 diz-se: "E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu".


A pessoa citada aqui é claramente salva, posto que é chamada de irmão. É verdade que se trata de um irmão fraco. Contudo, é um irmão, uma pessoa que pertence ao Senhor. Aqui, no entanto, diz que ele pode perecer.


A palavra perecer (apollumi - grego) inclui dois significados. Pode ser traduzida para perecer ou para destruir. Entretanto, essa palavra é a mesma palavra perecer usada em João 3: 16, onde diz que todo o que Nele crê não apollumi, mas tem a vida eterna. Se podemos usar a palavra destruir em 1 Coríntios 8:11, então poderíamos traduzir João 3:16 para destruir também. Eis aqui, portanto, um problema.


Ao lermos a Bíblia, não a podemos ler de maneira superficial. A fim de compreendê-la claramente, deve-se ler o contexto.


O assunto de 1 Coríntios 8 é a proibição aos cristãos de comer comida oferecida a ídolos no templo do ídolo. Os cristãos coríntios supunham que não havia nenhum problema se os cristãos comessem comida oferecida a ídolos no templo pagão. Sua explicação era que havia somente um Deus nos céus e na terra. Os ídolos nada são. Se alguém oferece comida aos ídolos, e os ídolos são reais, então as ofertas são reais. Se os ídolos não são reais, então as ofertas não são ofertas, de forma alguma, mas somente comida. Se não são ofertas, que mal há em comê-Ias? Se os ídolos não são reais, então os templos são apenas não-templos, e nada significaria comer das ofertas nos templos dos ídolos. Eles, portanto, pensavam que as ofertas podiam ser comidas. Isso era o que os coríntios diziam.


Paulo, no entanto, disse que as ofertas não deveriam ser comidas. Sua explicação não era que os ídolos eram reais ou que os templos o fossem. No início do capítulo oito, Paulo disse: "No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber". A palavra "todos" refere-se aos cristãos coríntios. Porque todos têm conhecimento, todos podem comer. Entretanto, "o saber ensoberbece, mas o amor edifica". O propósito do amor é edificar a outros, enquanto o conhecimento ensoberbece. É verdade que o Pai é Deus, que Jesus é o Senhor, e que os ídolos nada são. Havia, entretanto, muitos irmãos fracos na igreja em Corinto. Eles não tinham o conhecimento; a mente deles não era tão perspicaz como a dos demais. Mesmo que você tentasse explicar-lhes, esses irmãos fracos não entenderiam. Eles ainda pensavam que era contra o mandamento do Senhor fazer algo assim. Alguém precisava lembrar aos "senhores do saber" quem eram esses fracos e quais os seus antecedentes. Hoje você pode achar que os ídolos nada são. Mas aqueles que anteriormente haviam ofertado aos ídolos achavam que estavam ofertando a Deus, por pensar que os ídolos eram deuses. Quando você come você não sente nada. Mas se eles comem é como se estivessem revendo seus pecados passados. Eles não são como você. Você tem o conhecimento, portanto pode comer e ir embora. Mas eles se sentiriam como que fazendo o mesmo que tinham feito antes e pecando como antes. Na mente deles ainda consideravam isso como pecado. Portanto, por causa dos outros cristãos, e por amor a eles, embora você possa ter o conhecimento, é preferível não comer. Você tem o conhecimento, mas eles não. Diante de Deus eles sentem-se condenados em sua consciência. Sentem que cometeram um grande pecado e que estão caindo novamente. Portanto, por causa deles, nós não comemos. Esse é o significado geral dessa passagem.


Os versículos 4 a 7 dizem: "No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo de si mesmo nada é no mundo e que não há senão um só Deus. Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por ele. Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se". Por favor, note a palavra familiaridade aqui. Esse era o antigo hábito deles. O versículo 12 diz: "E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais". Essa passagem ensina as pessoas a se absterem de comida sacrificada a ídolos por causa do amor pelos irmãos. Você não pode agir livremente e colocar seu irmão em dificuldades simplesmente porque você tem conhecimento.


Do versículo 7 até o fim do capítulo, o problema era da consciência. Não se tratava de um problema do espírito. Paulo, aqui, não estava falando acerca da salvação eterna ou da perdição eterna. Paulo nos estava dizendo o que fazer em relação a um irmão com uma consciência fraca. Se um homem faz algo que sabe que pode fazer, sua consciência não o condenará. Se, contudo, faz algo que sabe que não deveria fazer, sua consciência irá condená-lo e reprová-lo continuamente. Por exemplo, sabemos que não precisamos guardar o domingo nem o sábado. Não há problemas em fazer compras e trabalhar no domingo. Nossa consciência nunca nos condena. Isso é uma graça do Novo Testamento. O Senhor não colocou sobre nós o fardo do sábado. Alguns, no entanto, não têm esse conhecimento. Quando fazem compras no domingo, pensam ter cometido um grande pecado. Após terem feito isso, sua consciência não ficará em paz. Às vezes, a questão do pecado é simplesmente uma questão de consciência. A consciência do homem determina para ele quais são seus pecados.


Paulo estava se referindo a um irmão fraco. Outrora esse irmão adorava ídolos. Agora vê outros comendo, e deseja juntar-se a eles. Para você não há problema em comer, porque tem discernimento e sabe que os ídolos nada significam. Portanto, pode comer livremente. Ele come, não porque tenha discernimento, mas porque vê você comendo. O tempo todo em que ele está comendo, ele não tem paz. Você come com alegria. Ele come com temor. Após essa refeição, ele não consegue mais orar. A consciência dele lhe diz que pecou e abandonou a Deus para adorar ídolos, exatamente como costumava fazer. A consciência dele começa a perecer diante de Deus. Ele sente-se culpado perante Deus e acha que está acabado, que voltou aos seus antigos pecados.


Além de João 3:16, a palavra original para perecer também aparece em Lucas 13, 15 e 21. Contudo, nessas três passagens, essa palavra foi utilizada de forma muito diferente. No capítulo treze, Pilatos havia matado diversas pessoas e misturado o sangue delas com os sacrifícios que elas mesmas realizavam. O Senhor Jesus disse às pessoas que não considerassem esses galileus mais pecaminosos do que elas mesmas. A menos que se arrependessem, todos eles igualmente pereceriam. Perecer, aqui, refere-se ao corpo ser morto, e nada tem a ver com a alma do homem. O Senhor disse que houve dezoito mortos quando a torre de Siloé desabou. A não ser que se arrependessem, eles pereceriam da mesma forma. Isso se refere à morte do corpo exterior.


Na parábola do filho pródigo no capítulo quinze, o pródigo disse: "Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui pereço de fome!" Aqui, morrer não se refere à alma perecer. Portanto, tal palavra não se refere apenas à morte eterna, mas também à morte do corpo e à inanição. Pode-se considerar que alguém perece quando é morto, e pode-se também considerar que alguém perece quando está morrendo de fome.


No capítulo vinte e um do Evangelho de Lucas, o Senhor diz que o cabelo de nossa cabeça de modo algum perecerá (lit.). Até nosso cabelo pode perecer. Ora, não há possibilidade de que isso signifique morte eterna. A partir dessas três passagens, pode-se imediatamente ter uma idéia do que Paulo quis dizer aqui. Ele referia-se a algo que pudesse fazer perecer a consciência de um irmão fraco. Na reunião este poderia não ser mais capaz de orar. Poderia pensar que estava acabado, que havia adorado a ídolos novamente e que havia comido a comida oferecida a ídolos no templo pagão. Ele poderia achar que havia abandonado o Deus vivo e a consciência dele seria destruída por sua causa.


Se lermos cuidadosamente esta porção da Escritura, (1 Co 8 do versículo 7 em diante, veremos por que Paulo disse aquilo. "Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se". Por favor, note que isso se refere àqueles cuja consciência, sendo fraca, é contaminada. "Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos se comermos". Este é categoricamente nosso padrão: se comermos não existe mérito, e se não comermos não há perda. Mas os que não têm o conhecimento têm um problema quanto a isso. "Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos". A fraqueza aqui não se refere à fraqueza moral ou à doutrinária. Pelo contrário, refere-se à fraqueza na consciência. Se ela significasse a fraqueza na condição moral ou doutrinária de alguém, o versículo perderia seu significado. Ela refere-se sim, à fraqueza na consciência. "Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos?" Os que têm consciência fraca pensam que uma vez que os outros podem comer eles também podem. Contudo, se este vem a comer, a sua consciência ficará contaminada. "E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu". Portanto, perecer, aqui, não se refere à perdição eterna de um irmão salvo. Perecer, aqui, refere-se ao tropeço espiritual de um irmão devido à fraqueza.


Se o que 1 Coríntios 8 diz é que o conhecimento de um irmão pode levar o outro a perecer eternamente, então posso dizer que para ser salva ou para perecer, uma pessoa depende do conhecimento de outra. Se esse fosse o caso, eu poderia mandar cada um de vocês para o inferno por meio de meu conhecimento. Se esse fosse o caso, o perecimento de um homem não seria determinado por ele mesmo, mas pelos outros. Sabemos que não pode haver coisa semelhante. A Bíblia diz que todo aquele que crê no Senhor Jesus terá vida eterna. Se um homem perecerá diante de Deus ou não, depende de ele crer no Senhor Jesus. Como poderiam os outros me levarem para o inferno? Isso é absolutamente não-bíblico. Com relação ao uso da palavra perecer, podemos dizer que aqui ela não se refere à questão da vida e morte eternas. Pelo contrário, refere-se ao dano da consciência e a fazer uma pessoa tropeçar.


Prossigamos. O versículo 12 diz: "E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais". Pecar contra os irmãos, aqui, refere-se a levar um irmão fraco a perecer por meio do conhecimento, no versículo 11. Pecar, no versículo 12, refere-se ao perece no versículo 11. O versículo 12 diz que quando você faz seu irmão perecer por causa do seu saber, você está golpeando a consciência fraca dele. Portanto, o perecer mencionado no versículo anterior refere-se ao golpear a consciência. Isso não se refere à vida eterna ou à morte e perdição eternas.


O versículo 13 prossegue dizendo-nos o que é golpear a consciência: "E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo". Se você puser esses três versículos juntos, verá o que significa perecer aqui. Perecer é golpear a consciência fraca do irmão, e golpear a consciência fraca do irmão é levar meu irmão a tropeçar. Portanto, os versículos 11, 12 e 13 são três elos unidos. Eles mostram-nos o que é perecer. O que é tratado aqui não é absolutamente o perecer em relação à salvação. Se você insistir em explicar dessa forma, dizendo que uma pessoa salva perecerá, achará difícil sustentar esse argumento. Você enfrentará dificuldades explicando-o dessa forma.

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